quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Concilio dos Bacos - Fernando Miguel

Desde 1992 que o Atelier S. Miguel, no Formigal, em Caldas da Rainha, se dedica à produção de peças em cerâmica, todas únicas de cariz satírico, inspiradas no espírito alegre, caricato e artístico, que, desde a passagem de Rafael Bordalo Pinheiro por esta terra, ficou aliado às Caldas da Rainha.Do Atelier saem peças únicas de valor artístico no campo da arte sacra, figurativa e da tradição artística de Caldas da Rainha.Fernando Miguel nasceu em Caldas da Rainha em 1958 e desde jovem que aprendeu e contactou sempre com a cerâmica, arte que já vinha do seu avô materno, Artur Caldeira, oleiro, que pertenceu à geração em que a olaria era uma das profissões mais tradicionais de Caldas da Rainha, existiam então algumas dezenas de oficinas de olaria e faiança tradicional.Milena Miguel nasceu em Lisboa em 1961, tendo adquirido o gosto pela arte da cerâmica logo após a sua chegada a Caldas da Rainha, ainda jovem, desenvolvendo desde logo a sua linha artesanal na criação de peças originais.

Se há peças que eu me orgulho de ter esta é uma delas , comemorativa do centenário da morte de Rafael Bordalo Pinheiro e feita pelo artesão Fernando Miguel.. simplesmente divina...

Um sonho do Zé Povinho...


" Grande sonho, o do Zé Povinho

Inspirado pelas provas do tinto

Reunio os Deuses do vinho

No seu imaginário Olimpio ....

" Zé Povinho está contente

No sonho representado por " Cacos"

E esperar alegrar a gente

Neste concilio de Bacos "

Santo António - Milene Miguel

Uma das peças, da minha " colecção" privada de Santos Antónios. Também do Atelier S. Miguel , da Milena Miguel.


Nossa Senhora do Ó - Milena Miguel

Quando engravidei, esta foi uma das minhas melhores aquisições, que sempre me acompanhou, a Nossa Senhora do Ó da artesã Milena Miguel.
Quando olho para ela , sinto sempre aqueles momentos...



Flores, cores...e cheiros

Sempre gostei de flores, as minha favotitas sempre foram as margaridas, mas adoro a cor da alfazema, quanto mais campestres mais lindas são pela côr, alegria , vida, o meu estilo sempre foi o rústico aqui vos mostro uma parte do meu jardim.... uma paz........

As famosas " Malvas " ou " Sardinheiras"...



terça-feira, 28 de abril de 2009

Lenços e Fernando Pessoa o que poderão ter em comum?

Desde sempre me lembro de Fernando Pessoa fazer parte do meu dia a dia, frequentava o liceu com dois grandes amigos irmãos gémeos Omar e Óscar, e passei algumas tardes em verdadeiras tertúlias, num café cujo o nome era o do grande poeta.

Mais tarde descobri o Livro do Desassossego, seguramente que está no meu top ten "Viver sonhando, sonhar imaginando, imaginar sentindo - era este o credo que ressoava em quase todos os cantos do universo pessoano...." e atrevo-me a dizer no meu também.
No Fundão, no CC acrópole, a loja da Sãozinha, o alforge, que respira cultura, bom gosto e tradição. Tenho sido uma sortuda com algumas ofertas da Sãozinha, e claro algumas aquisições minhas ( acho que durante a minha mostra vou falar muito desta loja).
Durante a minha gravidez fui presenteada com este lenço achei divinal .....

"Que enigma havia em teu seio
que só génios concebia?
que arcanjo teus sonhos
veio velar, maternos, um dia?

.... e completo com mais Pessoa


" Cumpri contra o destino o meu dever inutilmente?Não, porque cumpri.

O saber fazer...

É verdade , que sempre encontro alguém que sabe fazer de uma forma desprendida, todas estas artes que eu tanto admiro, também é verdade que tenho sempre tido ao meu lado pessoas com a sensibilidade suficiente, de me oferecerem ....o que de facto tem valor para mim...

Esta é uma versão dos " lenços dos pedidos" feito por uma pessoa amiga ....

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Lenços dos namorados" ou "Lenços de pedidos"

Decidi partilhar convosco a minha pequena "colecção", dos lenços dos namorados que fui adquirindo na Aliança Artesanal, mas não posso deixar de transcrever um pouco da sua história , as várias histórias de amor.

Os "lenços dos namorados" ou "lenços de pedidos" tinham com função a conquista do namorado. Depois de bordado o lenço ia ter às mãos do "namorado" ou "conversado" e era em conformidade com a atitude deste de usar publicamente ou não, que se decidia o início duma ligação amorosa. Os lenços carregam consigo, por isso, os sentimentos amorosos duma rapariga em idade de casar, revelados através de variados símbolos amorosos como a fidelidade, a dedicação, a amizade.

Os lenços de namorados" constituíam a um dado momento uma prova da declaração feita pela bordadeira ao seu namorado e na maior parte dos casos esta declaração era atendida e o conversado comprometia-se, também, publicamente nesta ligação usando o lenço por cima do seu casaco domingueiro, colocado ao pescoço com o nó voltado para a frente.
Caso a rapariga não fosse correspondida o lenço voltaria às suas mãos. Se o namorado trocasse de parceira fazia chegar à sua antiga pretendida o lenço, fazendo-o acompanhar de todos os objectos que daquela possuía: fotografias, cartas.

O lenço no rapaz para além de ser usado por cima do casaco domingueiro podia, também, ser usado na aba do chapéu ou até mesmo na ponta do pau que era costume o rapaz trazer consigo. Quando eram utilizados pelas suas “donas” no seu trajo de festa, estes eram colocados do lado direito da cintura, deixando pender uma das pontas, dando assim à sua indumentária uma graciosidade particular.
Os lenços traduzem os mais variados sentimentos duma rapariga em idade de casar, quer manifestados através dos símbolos que se prendem com a fidelidade, quer através de símbolos religiosos que referem o acto específico do casamento, ou ainda através de quadras de gosto popular, que na maior parte dos casos denunciam a ignorância ortográfica da bordadeira, pois facilmente nos deparamos com erros ortográficos dos mais variados.

Tudo era feito em função da fantasia das fantasias - o Amor - e ele de facto parece ser a causa directa desta rica e exuberante manifestação artesanal.

A temática nestes lenços é muito variada e vai desde a representação dos símbolos relacionados com a temática das vindimas (a cesta, a escada, o cântaro e o pipo) ao tema da emigração, traduzida não só nas quadras que o próprio lenço comporta, mas na utilização de símbolos com ela relacionados (o navio, a pomba que transporta uma carta, etc.), passando pela representação de símbolos ligados a crenças religioso-pagãs, como seja a representação da estrela de Salomão (a estrela de cinco pontas) de duplo significado, ao mesmo tempo símbolo do homem e símbolo do diabo (besta), vista direita ou invertida respectivamente. Ela é ao mesmo tempo o símbolo utilizado pelo povo contra qualquer maldição ou feitiçaria.
Neste caso a defesa do amor encontrado contra qualquer maldição. Noutros lenços toda a decoração parte dum canto do lenço e é a partir daí que se desenvolve. Em todos porém o tema do amor está presente quer através da representação de corações quer mesmo através da palavra amor neles bordada.
Se alguns lenços chegam a possuir quadras que poderemos interpretar como amores não correspondidos quer nos parecer que essas quadras são mais de provocação, dirigidas ao namorado e não propriamente casos de "amor impossível".

"Garda bem este lencinho
Nele tens o meu saber"

"Meu curação
É lial a quém
No qizer amar"
"Bai carta feliz buando
Nas asas de um rouxinol
Bai ber a cara mais linda
que neste mundo cobre o sol"
" Curação por curação
Amor não troque o meu
Olha que o meu curação
Sempre foi lial ao teu"

"Se eu entrasse no seu peito
Sabia o seu interior
Assim como lá não entro
não sei se me tem-amor"

"Bai lenço da minha mão
Bai currer a freguesia
Bai dar em formações
da minha sabeduria"
"Bai carta feliz buando
No bico dum passarinho
Cande bires o meu amor
Dale um abraço e
um veijinho"
" Nosso amor
Hade acabar
Cande esta pomba buar"
"Aqui tens meu curação
E chabe pró abrir
Num tenho mais que dar
Num tú mais que pedir "
" Nossa amizade
Hade acabar
Cande esta
pomba buar "

" Meu Manel bai pró Brazil
Eu tamem vou no bapor

Gardada no curação
Daquele qué meu amor "

Artesanato genuinamente português

A minha enorme paixão por artesanato, " trabalho de mãos", tem vindo com os últimos anos a aumentar, de uma forma tal, que devoro tudo o que seja informação.

A meu gosto por arte sacra e na qualidade de autodidata, levou-me a fazer pintura em gesso, marfinite, trabalhar registos, que até hoje nunca publiquei nenhum, capelinhas, que com tão pouca informação disponivel acerca dos melhores materiais a utilizar, tive de fazer um percurso de " casa em casa", por Lisboa para encontrar as melhores solucções.

Cada vez que encontrei uma técnica nova fui sempre experimentando. Nas minhas longas noites de pesquisa, fui descobrindo muitas crafter´s, que fizeram disto o seu modo de vida ( que inveja!!!!), hoje começo a apreciar o artesanato urbano e a idolaterar o styling.



Não esqueço no entanto o que de melhor o meus país tem, que muito me orgulho é o melhor em todas estas matérias. Ao longo dos últimos anos fui adquirindo algumas peças , pelas quais me apaixono diariamente.




Tenho tido o privilégio de viver momentos únicos, feiras, visitas de artesãos, e últimamente experimentei frequentar um workshop, é verdade o da Rita, adorei, um ambiente contagiante, fantástico estar num espaço em que todas falamos a mesma linguagem, é uma delicia ouvir a Rita falar de " trapos". Adorei

domingo, 26 de abril de 2009

As " Rodilhas" ou "Sogras"

" Quem não pode com o pote,não pegue na rodilha..."

As "rodilhas" ou " sogras" são de forma circular, abertas ao centro. Eram utilizadas pelas mulheres, para transportarem á cabeça, os cântaros de água ou cestas. Os materiais utilizados na sua confecção, são tiras de trapos, lãs e linhas de bordar, nastro e feltros.






A rodilha aqui apresentada foi feita com restos de trapos e meias velhas , por uma " artesã" de 84 anos na freguesia de Póvoa de Rio de Moinhos, concelho de Castelo Branco. A Ti Zefa.